quarta-feira, maio 10, 2006

De repente, uma insegurança. Daquelas de fazer tremerem as pernas e titubearem os dedos ao digitar. Um sentimento de vida estagnada. As coisas perdendo o movimento. Ando de ônibus pra lá e pra cá, mas tudo permanece o mesmo. As mesmas contas. As mesmas filas de banco. A mesma grana curta. De repente, uma canseira dessa minha vidinha medíocre. Uma estafa incontrolável ao olhar ao meu redor: a rotina massacrante e o tempo imperdoável. Aliada a essa insegurança, uma vontade de fazer não sei o quê. Daí eu fuço a internet buscando alguma coisa, em vão. Tem alguma coisa enroscada na minha garganta que custa a sair. Um adesivo superpotente na sola dos meus pés que não me deixa movimentar as pernas, por mais que eu queira e tente. O coração aflito confundido com minha azia momentânea. Ou minha gastrite, refluxo, seja lá que porcaria esteja incomodando meu estômago. E esse tremor que não passa, a garganta que não desintala, a vida que não anda, a estátua que não se mexe, a rotina que não me abandona.
Vontade de sumir, fugir, mudar de corpo e de identidade pra ver se adianta alguma coisa. Queria estar em não sei onde fazendo não sei o quê, mas que, com certeza, me traria menos angústia do que a que eu estou sentindo agora. Sinto o restante do mundo viajar tranquilamente a 500 km/h enquanto eu ando de fusquinha. Talvez tudo isso seja fruto do meu excesso de ponderação e da minha descrença de sobra de que alguma coisa boa possa acontecer, de que a sorte possa mudar. Já me disseram que esse meu pessimismo não me leva a nada. Eu mesma já me disse isto. Só me resta acreditar e pegar carona nesse trem maluco e desvairado da vida.
Ontem fez frio, hoje também. Semana passada, dentro do shopping, dentro do cinema. Tudo igual. O mesmo tempero, as mesmas cores. O mesmo motorista dizendo o bom dia sorridente de sempre. Saio todo dia as 7:28 pra não perder o ônibus que passa 7:31. E ligo o computador as 8:02. Sai de perto de mim relógio! Quero ignorar as horas, fazer um tempo diferente, um minuto mais comprido e outro mais curto, mas o tic-tac é impiedoso.
Penso na trilha alheia e no motor alheio. Falta óleo no meu e me falta arrancar o mato alto que se fez na minha, por minha permissão. Vem logo, D. Vida, me dê um soco nas costas e uma rasteira certeira. Me tira desse tremor e corta minhas raízes. Eu quero o bilhete brilhante pra ingressar nesse trem. E me vê uma pastilha mágica pra ver se alivia essa garganta rouca.

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